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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Desabafo

Eu gostaria de me lembrar de como é respirar sem ter tanta coisa pra fazer.



Gostaria de curtir uma segunda de chuva debaixo do edredom, de dançar sozinha numa tarde de terça.


Sinto falta de escrever versos, sem ter que pensar que tenho pouco tempo pra me dedicar a isso, ou caçar um espaço no corrido almoço entre dez e meio dia.


Queria me lembrar de quando sonhava com minha facul, quando eu ainda achava que eu podia escolher o que fazer, que teria controle da minha vida.


Ter novamente a sensação de tirar uma foto tola de uma flor qualquer apenas pelo prazer que isso me traz.


Poder beijar quem eu amo sair sem ter medo de nada.


Me sentir eu dentro de mim, a mesma louca de sempre.


Sinto falta da minha garra, da minha convicção, do meu sorriso sincero, de não ligar pro cabelo, de não ter papas na língua, ansiar pelo futuro, poder acreditar que eu que sou corajosa, sonhar que posso mudar o mundo, cantar sem me importar se gostam do meu ritmo...


Tenho saudade do por do sol que sempre via no fim do dia, de admirar os pássaros, de me sentir leve e feliz, de sonhar acordada, de ser sarcástica como um Rob, de ver filmes repetidos, de chorar lendo um livro, curtir um anime, de me imaginar em outro mundo.


Assim acho que gostaria de lembrar-se de mim, me reencontrar, pra novamente me sentir feliz.


Não liguem pra depre, é só um periodo depois piora...kkkk
Ate mais!!!
desculpem o sumiço

Rifa-se um coração

Rifa-se um coração


Rifa-se um coração quase novo.


Um coração idealista.


Um coração como poucos.


Um coração à moda antiga.


Um coração moleque que insiste


em pregar peças no seu usuário.


Rifa-se um coração que na realidade está um


pouco usado, meio calejado, muito machucado


e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.


Um pouco inconseqüente que nunca desiste


de acreditar nas pessoas.


Um leviano e precipitado coração


que acha que Tim Maia


estava certo quando escreveu...


"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,


é isso que eu espero...".


Um idealista...Um verdadeiro sonhador...


Rifa-se um coração que nunca aprende.


Que não endurece, e mantém sempre viva a


esperança de ser feliz, sendo simples e natural.


Um coração insensato que comanda o racional


sendo louco o suficiente para se apaixonar.


Um furioso suicida que vive procurando


relações e emoções verdadeiras.


Rifa-se um coração que insiste em cometer


sempre os mesmos erros.


Esse coração que erra, briga, se expõe.


Perde o juízo por completo em nome


de causas e paixões.


Sai do sério e, às vezes revê suas posições


arrependido de palavras e gestos.


Este coração tantas vezes incompreendido.


Tantas vezes provocado.


Tantas vezes impulsivo.


Rifa-se este desequilibrado emocional


que abre sorrisos tão largos que quase dá


pra engolir as orelhas, mas que


também arranca lágrimas


e faz murchar o rosto.


Um coração para ser alugado,


ou mesmo utilizado


por quem gosta de emoções fortes.


Um órgão abestado indicado apenas para


quem quer viver intensamente


contra indicado para os que apenas pretendem


passar pela vida matando o tempo,


defendendo-se das emoções.


Rifa-se um coração tão inocente


que se mostra sem armaduras


e deixa louco o seu usuário.


Um coração que quando parar de bater


ouvirá o seu usuário dizer


para São Pedro na hora da prestação de contas:


"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,


só errei quando coloquei sentimento.


Só fiz bobagens e me dei mal


quando ouvi este louco coração de criança


que insiste em não endurecer e,


se recusa a envelhecer"


Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por


outro que tenha um pouco mais de juízo.


Um órgão mais fiel ao seu usuário.


Um amigo do peito que não maltrate


tanto o ser que o abriga.


Um coração que não seja tão inconseqüente.


Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,


mas que incomoda um bocado.


Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda


não foi adotado, provavelmente, por se recusar


a cultivar ares selvagens ou racionais,


por não querer perder o estilo.


Oferece-se um coração vadio,


sem raça, sem pedigree.


Um simples coração humano.


Um impulsivo membro de comportamento


até meio ultrapassado.


Um modelo cheio de defeitos que,


mesmo estando fora do mercado,


faz questão de não se modernizar,


mas vez por outra,


constrange o corpo que o domina.


Um velho coração que convence


seu usuário a publicar seus segredos


e a ter a petulância de se aventurar como poeta


Clarice Lispector